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Internacionalização de Programas Brasileiros de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração

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Esta proposta refere-se a um projeto de tese que ainda está em andamento, vinculado à Universidade Positivo – PR. Sendo assim, apenas informações sobre objetivos e justifica serão apresentados.
Pode-se afirmar que a internacionalização está mudando o mundo da educação superior e a globalização está mudando o mundo da internacionalização. Segundo Knight (2008), alguns fatores que impulsionam essa mudança estão relacionados ao desenvolvimento da comunicação e tecnologia de serviços; o aumento da mobilidade laboral; educação para a terceira idade, aumento do investimento privado e diminuição do aporte público, entre outros. Com isso, cresce a valorização de aspectos internacionais e interculturais na concepção de currículos acadêmicos e no processo de ensino-aprendizagem, contribuindo para maior qualidade e relevância da educação superior.
De acordo com Morosini (2006, p. 109), embora a internacionalização das universidades seja um tema já antigo às universidades, principalmente em relação à produção científica, “é a partir da década de 1990, com o processo de globalização, que a internacionalização da educação superior vem se fortificando no panorama mundial”. Nesse sentido, trata-se de um processo de internacionalização que vai além da produção científica, abrangendo também o ensino.
De forma complementar, Celano e Guedes (2013) afirmam que com a globalização econômica da década de 1990, os programas de pós-graduação também precisaram alterar as estratégias de internacionalização para atender e se adaptar às novas demandas.
Destaca-se que a relevância do tema internacionalização no superior está relacionada a diversos fatores de competitividade que as universidades públicas e privadas têm enfrentado, a partir do advento de novas tecnologias que apoiam o processo de ensino-aprendizagem como, por exemplo, o ensino à distância. Knight (2006; 2008) ressalta que as mudanças trazidas pelo processo de globalização impactam a educação, mas também a internacionalização em si mesma constituiu-se em um agente de mudança. Nesse sentido, o setor da educação enfrenta implicações políticas, sociais, econômicas e outros fatores que resultam em diferentes reações por parte das instituições de ensino.

Segundo Altbach, Reisberg e Rumbley (p. 4, 2009, tradução nossa):
A globalização representa a realidade-chave no século XXI, que tem influenciado profundamente a educação superior. Esses autores definem a globalização como a realidade moldada pela crescente integração das economias mundiais; novas informações e comunicações tecnológicas; a emergência de uma nova rede de conhecimento; o papel da língua inglesa; e outras forças por detrás do controle das instituições acadêmicas.

Nessa mesma direção, van der Wende (2003) salienta que existem duas forças que tem impulsionado a demanda no ensino superior. Uma delas é o crescimento do número de estudantes aptos a ingressar no ensino superior, notadamente no sudeste da Ásia e na América Latina. Para 2025, a previsão desse crescimento poderá superar 150 milhões de novos estudantes. A outra força está relacionada com a necessidade de formas diferenciadas e flexíveis de educação superior, refletindo assim mudança de economias pós-industriais para economias do conhecimento.
A internacionalização no ensino superior tem deixado de representar atividades periféricas da instituição para se tornar um objetivo prioritário, uma vez que esta se relaciona com muitos outros processos que somados poderão garantir maior qualidade aos serviços prestados (BEERKENS et al, 2010).
Nesse sentido, é que se desperta o interesse em estudar as universidades brasileiras, mais especificamente avaliar os fatores internos aos programas de pós-graduação stricto sensu em administração e sua relação com indicadores em internacionalização.
O tema internacionalização do ensino superior tem recebido um novo olhar para ser investigado. Em 2000, destacava-se, por exemplo, o modelo de Rudzki para se estudar esse processo em instituições de ensino, o qual se baseava essencialmente na mudança organizacional; inovação curricular, desempenho pessoal e mobilidade (RUDZKI, 2000). A partir de 2010, outras perspectivas para se estudar esse fenômeno tiveram destaque em eventos nacionais e internacionais da área de administração. Um desses eventos que merece destaque é o Congresso Latino-Iberoamericano de Gestão de Tecnologia (Altec) realizado no ano de 2013, na cidade de Porto/Portugal.
Cabe ressaltar que, em umas linhas temáticas do Altec (2013), a internacionalização foi pauta de discussão, sob a perspectiva que ensino superior já não se limita a modelos baseados na mobilidade direta de estudantes de países menos desenvolvidos para países mais desenvolvidos, ou através da exportação de serviços educativos em aliança ou colaboração com universidades nacionais ou locais, ou mesmo a implantação de campus de universidades de países desenvolvidos em países em vias de desenvolvimento. Neste contexto é que surgem novas tendências de cooperação científica e acadêmica internacional como fatores de desenvolvimento inclusivo, com partilha de responsabilidades e ambições, assim como a construção de agendas comuns de ciência e tecnologia.
Sendo assim, destacam-se outros eventos que discutiram o tema internacionalização do ensino superior em âmbito mundial, durante o ano de 2015: “Universalizando o Aprendizado Global”, sob coordenação do The Association of International Education Administrators (AIEA); “Um diálogo global sobre o futuro da internacionalização”, sob coordenação do The International Education Association of South Africa (IEASA); “ Os próximos 25 anos de internacionalização do ensino superior”, abrangendo subtemas relacionados à certificação de competências interculturais, questões de mobilidade; plurilinguismo educacional versus inglês como língua franca; Moocs ( novos formatos de cursos abertos online em instituições de ensino superior); promovidos pela The European Association for International Education (EAIE)
Todos esses eventos tiveram em comum o interesse em promover a qualidade de todas as atividades de educação internacional. Colaboram também para amplo diálogo nesse tema, The Asia-Pacific Association for International Education (APAIE); bem como The NAFSA Association of International Educators, ao promover diversos debates envolvendo não apenas gestores e professores de universidades, mas também do corpo técnico-administrativo, acadêmicos e pesquisadores em geral ( LEASK; HUNTER; RUMBLEY, 2014).
No Brasil, diversos eventos que tratam do tema internacionalização do ensino são realizados anualmente por instituições de ensino e pelas associações vinculadas a estas como, por exemplo, a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e Municipais (ABRUEM). Em relação aos eventos realizados pelas instituições de ensino, ressalta-se, primeiramente, o Seminário “Internacionalização: desafio à universidade, com sua primeira edição no ano de 2014, sob coordenação da PUC/RS. Trata-se um evento voltado a gestores de áreas acadêmicas, de pesquisa e de inovação, com foco em relações internacionais. Outro evento de importância, organizado pelas assessorias e escritório de relações internacionais das universidades estaduais do Paraná, é o Seminário de Internacionalização das Instituições de Ensino Superior do Paraná (SIIES). Em sua quarta edição, no ano de 2015, esse seminário discutiu temas relacionados à institucionalização da internacionalização nas universidades brasileiras; o quadro atual da internacionalização em universidades brasileiras e a integração regional do ensino superior na América Latina.
Destaca-se também a criação da rede de universidades da zona de integração do centro-oeste da América do Sul (Zicosur), criada em 2008, por iniciativa do Governo do Paraná, em parceria com um grupo de universidade do norte da Argentina. O principal objetivo dessa rede é desenvolver atividades acadêmicas, científico-tecnológicas e culturais a favor do desenvolvimento socioeconômico dos países que venham a integrá-la. Ademais, promover o envolvimento docente e discente nas relações de cooperação e intercâmbio de ações relevantes para o desenvolvimento sustentável e a integração de regiões e seus respectivos países. Até o ano de 2015, além do Brasil, integram o Zicosur Universitário as universidades do Chile, Paraguai, Argentina e Bolívia (ZICOSUR, 2015).
Segundo Knight (2005), a internacionalização torna-se cada vez mais importante, complexa e incorporada ao contexto das universidades do mundo todo. Cabe ressaltar que a partir dos anos 2000 há um processo de consolidação de um ambiente econômico mais favorável à internacionalização das empresas, fortalecendo assim a relação Universidade-Empresa-Governo. Nessa direção, destaca-se o ponto de vista dos autores Mattos e Guimarães (2005) sobre o papel do Estado, a partir dos anos 2000, em relação às políticas de C&TI. Para esses autores um aspecto importante foi desenvolver e modernizar a infraestrutura de serviços como instrumento de apoio à inovação e competitividade. A exposição das empresas locais à competição internacional estimularia a busca por capacitação tecnológica e a necessidade de maior articulação entre as instituições Universidade-Empresa-Governo.
Outras mudanças importantes no ambiente no qual as instituições brasileiras de ensino superior estão inseridas estão relacionadas aos mecanismos de avaliação dessas instituições após a instituição do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), no ano de 2004. Esse sistema, de modo geral, foi implantado para ampliar as dimensões de avaliação das instituições de ensino superior que até então se restringiam a medir o resultado de aprendizado dos cursos. Sendo assim, um dos principais objetivos do Sinaes é identificar mérito e valor das instituições, áreas, cursos e programas, nas dimensões de ensino, pesquisa, extensão, gestão e formação, sob uma tríplice avaliação: a Instituição, o Curso e os Estudantes (SINAES, 2014).
Nesse sentido, repensar instrumentos de avaliação é de relevante importância, uma vez que as instituições de ensino precisam acompanhar constantes exigências de um processo de globalização que as afeta de diferentes maneiras. De acordo com Bernheim (2008, p. 26), “a principal responsabilidade das universidades latino-americanas com respeito à globalização consiste em assumi-la criticamente. Com todas as suas consequências, a globalização precisa ser um item prioritário na agenda de reflexão e pesquisa.” Para esse autor um grande desafio é a internacionalização da educação superior, reflexo da natureza global do conhecimento, da pesquisa e da aprendizagem.
De acordo com Qiang (2003) existem diferentes fatores que demonstram a importância da internacionalização da educação superior. Um desses fatores está relacionado com os requisitos acadêmicos e profissionais que refletem cada vez mais as demandas de sociedades globalizadas ao exigirem não somente os conteúdos básicos de uma determinada profissão ou ciência, mas também o multilinguismo, bem como atitudes e habilidades interculturais. Além disso, o nível de especialização em pesquisa e a necessidade de investimentos, indispensáveis para alguns campos da ciência, exigem esforços colaborativos e cooperação internacional.
Segundo Verhine e Freitas (2012, p. 37):
é necessário que as instituições de ensino estejam conectadas com o mundo global e com a internacionalização da educação superior, que é cada vez mais uma realidade. É importante que haja regulação do sistema como um todo para que a educação cresça com equilíbrio, tenha continuidade, perenidade e possa desempenhar o papel importante que lhe está sendo atribuído no desenvolvimento cultural, social, econômico e científico.

Na pós-graduação em nível stricto sensu também houve significativas mudanças a partir reformulações em 1998 na avaliação do sistema nacional da pós-graduação (SNPG). A partir desse período, a avaliação passou a ser realizada com a participação da comunidade acadêmico-científica e de consultores ad hoc, mantendo periodicidade trienal. Destaca-se que o item VI dessa avaliação contempla o conceito de internacionalização, pois a instituição avaliada deve considerar o impacto dos programas em âmbitos local, nacional e internacional, principalmente em relação a resultados avindos de cooperação tecnológica ou científica.

Em um ambiente econômico caracterizado pela globalização e pela intensificação da concorrência, no qual ciclos de inovação tornam-se progressivamente mais curtos, a capacidade de aprendizagem contínua releva-se como fator crucial de competitividade. Os setores de educação, ciência e tecnologia no Brasil precisam enfrentar vários desafios, entre os quais: educar os cidadãos para conviver em um mundo em rápida evolução, preparando-os para acompanhar as inovações tecnológicas em todos os aspectos das atividades humanas; incorporar na sociedade o progresso técnico-científico; e formar profissionais para atender à ampla demanda do mercado de trabalho (ROCHA e GRANEMANN, 2003, p.39).

De forma complementar Beerkens et al (2010) afirmam que as instituições de ensino superior têm enfrentando demandas advindas de um ambiente em que a educação e pesquisa assumem caráter internacional. Para tanto, há necessidade de essas desenvolverem não apenas estratégias de internacionalização, mas também novas competências institucionais como um todo, incluindo seus objetivos. Esses autores enfatizam que a internacionalização tem se tornado um processo que precisa ser mais bem compreendido, demandando tanto indicadores quantitativos quanto qualitativos. Esses indicadores se tornam importantes à medida que o cenário global de competição impele às instituições de ensino superior a atribuírem maior importância aos rankings de avaliação de desempenho.
Segundo Knight (2008) embora o processo de internacionalização apresente benefícios gerais às instituições de ensino superior como, por exemplo, promoção de cooperação e solidariedade ente nações, há necessidade de se avaliar os diferentes propósitos e resultados esperados de acordo com o contexto da instituição envolvida nesse processo.
Em relação à contribuição teórico-científica deste trabalho, espera-se desenvolver novas perspectivas em relação à avaliação de desempenho dos cursos de pós-graduação stricto sensu nas atividades de internacionalização, considerando fatores internos e externos à universidade. Sendo assim, será possível que as coordenações de programas de pós-graduação tomem decisões estratégicas para melhoria contínua da qualidade desses programas com base em indicadores de internacionalização. Essas ações estariam se somando às perspectivas do Plano nacional de Pós-Graduação (PNPG) 2011-2020, o qual prevê diferentes ações para fomentar a inserção internacional de programas de pós-graduação.
Ressalta-se que até a data da apresentação, espera-se incluir o modelo teórico da tese, metodologia, referencial teórico mais aprofundado e expectativas em relação aos resultados. Espera-se que com o evento, novas informações sejam somadas à pesquisa.








REFERÊNCIAS
ALTBACH, P. G.; REISBERG, L.; RUMBLEY, L.E. Trends in global higher education: tracking an academic revolution. Paris: Unesco, 2009.

ALTEC – Congresso Latino-Iberoamericano de Gestão Tecnológica. Introdução eixos temáticos. In: XV Altec, 2013. Porto-Portugal. Anais... Altec, 2013.

BEERKEN et al. Indicator for mapping & Profiling Internationalisation (IMPI). European Comission – Education and Culture DG, Holanda, 2010.

BERNHEIM, C.T. Desafios da universidade na sociedade do conhecimento: cinco anos da conferência sobre educação superior. Brasília: Série Documentos Ocasionais de Fórum da Unesco, 2008.

KNIGHT, J. An internationalization model: responding to new realities and challenges. In: DE WIT, H. et al (Eds). Higher Education in Latin America – the international dimension. Washington: World Bank, 2005.

_____. Higher education in turmoil: the changing world of internationalization, Rotterdam: Sense Publishers, 2008. Disponível em: <https://www.sensepublishers.com/media/475-higher-education-in-turmoil.pdf>. Acesso em 29 nov. 2014.

LEASK, B.; HUNTER, F.; RUMBLEY, L. Editorial. Journal of Studies in International Education, v. 18, n.1, p. 3-5, 2014.

MOROSINI, M.C. Estado do conhecimento sobre internacionalização da educação superior: conceitos e práticas. Educar, Editora UFPR, n.28, p.107-124, 2006.

ROCHA, C. H.; GRANEMANN, S.R. Gestão de Instituições Privadas de Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2003.

RUDZKI, R.E. J. Implementing internationalization: the practical application of the fractal process model. Journal of Studies in International Education, v.4, Fall, p. 77-90, 2000.

SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. Disponível em:<http://portal.inep.gov.br/superior-sinaes>. Acesso em 17 nov. 2014.

VAN DER WENDE, M. Globalization and access to higher education. Journal of Studies in International Education, v.7, summer, p.193-206, 2003.

ZICOSUR. Rede de universidades da zona de integração do centro-oeste da América do Sul. Disponível em :< http://www.zicosur.org.ar/Nueva_ZICOSUR/espanol/index1.php>. Acesso em 10 nov. 2015.

Author(s):

Debora Andrea Liessem Vigorena    
Universidade Positivo
Brazil

João Carlos da Cunha    
Universidade Positivo
Brazil

 

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